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Coletiva Novembro

DUPLOS. PARASITAS?

 

Minhas pinturas tiveram duas fotografias realizadas pela artista Julieta Schildknecht, de gêmeas, como ponto de partida. O tema disparador me fez pesquisar a origem, a formação e as anomalias de gêmeos. O foco maior, no início, eram os gêmeos siameses, e, pelas investigações, descobri a existência de gêmeos parasitas.

Quando nascem gêmeos, há uma fantasia romântica que exalta a beleza do duplo. Em algumas culturas, ter gêmeos é considerado uma bênção, um sinal divino. 

Na China quando um casal de gêmeos nasce - eles são chamados de "dragão e phoenix”, uma referência a dois símbolos tradicionais da prosperidade. 

Por outro lado, a prosperidade, beleza e bênção se transformam quando nascem gêmeos siameses, ou gêmeos parasitas: este foi o foco de meu interesse, considerado como “anomalias”.

Gêmeos siameses são divididos em categorias, e, nas categorias, alguns poucos casos, são de gêmeos parasitas.

Apesar de sua particularidade, as criaturas nascidas siamesas e suas famílias vivem como as demais, possuem uma rotina diária, diferente talvez da nossa. Muitos siameses não podem ser separados e vivem a vida inteira colados, fazendo todas as atividades diárias ao mesmo tempo do outro. Não há isolamento, nem momentos de solidão, sempre estão acompanhados do outro. Porém são seres diferentes, com pensamentos, desejos e ideias muitas vezes diferentes ou mesmo opostas às do outro. São dois seres humanos, portanto, dois indivíduos, apesarem de compartilharem partes ou órgão de um mesmo “corpo”.

A separação cirúrgica de gêmeos siameses é um procedimento delicado e de risco, que exige extrema precisão e cuidado. Somente após o nascimento é que os médicos podem usar imagens de ressonância magnética, ultra som e angiografia para descobrir quais os órgãos estão unindo os gêmeos, a fim de determinar a viabilidade de separação.

Isso me intrigou, uma vez que, no meu imaginário, os siameses devem ter uma convivência difícil entre si, difícil com com suas famílias e ainda mais difícil viverem em sociedade.

Os gêmeos parasitas, “Fetus in fetus”, nascem raramente. É uma anomalia de desenvolvimento em que uma massa de tecido semelhante a um feto se forma dentro do corpo do feto. Investiguei mais este assunto e as obras que apresento discutem este tema.

Pensando de uma forma mais abrangente, a relação “parasita” está presente em muitas relações humanas: amorosas, filiais, de trabalho. De forma consciente ou inconsciente, um ser suga do outro aquilo que lhe faz falta, depende do outro para sobreviver, racional ou irracionalmente.

A Condição Humana ¹ de Hannah Arendt é uma obra filosófica que interpreta a modernidade como a era que colocou em perigo a condição mais básica da vida humana: a pluralidade. Em sua formulação, a pluralidade consiste numa síntese entre igualdade e a diferença: todo ser humano é único, mas sua singularidade somente se constitui em uma teia de relações entre seres humanos iguais. No diagnóstico de Arendt, a modernidade coloca em perigo justamente a vida humana. Essa é a era da sociedade dos consumidores, em que as ferramentas, os objetos de arte e até mesmo os seres humanos são descartáveis.

Segundo Mariane Morato Stival, em Uma análise sobre a condição humana de Hannah Arendt e as contribuições para a reconstrução dos direitos humanos ², “as três atividades e suas respectivas condições tem íntima relação com as condições mais gerais da existência humana: o nascimento e a morte, a natalidade e a mortalidade. A condição humana compreende algo mais que as condições nas quais a vida foi dada ao homem. Os homens são seres condicionados, ou seja, tudo aquilo com a qual eles entram em contato torna-se imediatamente uma condição de sua existência. A objetividade do mundo e a condição humana complementam-se uma a outra, por ser uma existência condicionada, a existência humana seria impossível sem as coisas e estas seriam um amontoado de artigos incoerentes, um não mundo, se esses artigos não fossem condicionantes da existência humana. (...) Observa-se que o estudo destas atividades da condição humana é fundamental para a compreensão sobre a liberdade do homem no espaço público e sua coragem política.

As três atividades e suas respectivas condições tem íntima relação com as condições mais gerais da existência humana: o nascimento e a morte, a natalidade e a mortalidade. A condição humana compreende algo mais que as condições nas quais a vida foi dada ao homem. Os homens são seres condicionados, ou seja, tudo aquilo com a qual eles entram em contato torna-se imediatamente uma condição de sua existência”.

Refletindo sobre casos de gêmeos siameses ou parasitas, que são únicos apesar de serem duplos ou parasitas, suas relações interpessoais ficam severamente comprometidas: há pouca aceitação para a pluralidade em nosso mundo. São considerados aberrações, anomalias. Geralmente são escondidos em seus lares, ou, se expostos, são apresentados como tais e os demais pagam para vê-los.

Graças ao avanço tecnológico na medicina, crianças siamesas nascem em menor número atualmente. Porém poucas conseguem destacar-se positivamente na sociedade. 

Ao começar sua obra, “A condição humana”, Hannah Arendt alerta: condição humana não é a mesma coisa que natureza humana. A condição humana diz respeito às formas de vida que o homem impõe a si mesmo para sobreviver. São condições que tendem a suprir a existência do homem. 

As condições variam de acordo com o lugar e o momento histórico do qual o homem é parte. Nesse sentido todos os homens são condicionados, até mesmo aqueles que condicionam o comportamento de outros tornam-se condicionados pelo próprio movimento de condicionar. Sendo assim, somos condicionados por duas maneiras: pelos nossos próprios atos, aquilo que pensamos, nossos sentimentos, em suma os aspectos internos do condicionamento e pelo contexto histórico que vivemos, a cultura, os amigos, a família. Esses são os elementos externos do condicionamento. Nestes contextos, vemos que siameses, que nunca podem ser separados, sempre experimentaram viver da forma em que nasceram, desconhecem a forma “separada”. O contexto histórico sendo positivo poderá proporcionar uma vida boa e produtiva, mesmo tendo limitações.

Hannah Arendt organiza e sistematiza a condição humana em três aspectos: o “labor”, que é o processo biológico necessário para a sobrevivência do indivíduo e da espécie humana; o “trabalho”, que é atividade de transformar coisas naturais em coisas artificias, (por exemplo, retiramos madeira da árvore para construir casas, camas, armários, objetos em geral. A autora, ainda diz que o trabalho não é intrínseco, constitutivo, da espécie humana, em outras palavras, o trabalho não é a essência do homem, é uma atividade que o homem impôs à sua própria espécie, ou seja, é o resultado de um processo cultural). E por último, a “ação”, que é a necessidade do homem em viver entre seus semelhantes: sua natureza é eminentemente social. 

Quando o homem nasce precisa de cuidados, precisa aprender e apreender para sobreviver. Há uma grande diferença entre as crianças e os animais que nascem e não precisam deste cuidado inicial. A qualidade da ação supõe seu caráter social ou como escreve Hannah, sua pluralidade. Aprender a viver, sobreviver: até quando precisamos ser tutelados durante nossa vida?

Para Arendt, a ação, o labor e o trabalho estão relacionados com o conceito de “Vita Activa”. Para os antigos, a “Vita Activa” é ocupação, inquietude, desassossego. O homem, no sentido dado pelos gregos antigos, só é capaz de tornar-se homem quando se distancia da “vida activa” e se aproxima da vida reflexiva, contemplativa. No mundo em que vivemos, a reflexão, os momentos de contemplação estão cada vez menores, uma vez que a “Vita Activa”, produtiva, ocupa a maior parte do nosso tempo. Para Arendt, nessa visão de mundo grega, os escravos não são considerados homens. O espaço reflexivo e contemplativo não fazem parte de seus cotidianos. Para Arendt todas as atividades humanas são condicionadas pelo fato de que os homens vivem juntos, mas a ação é a única que não pode sequer ser imaginada fora da sociedade dos homens.

Me questiono de que forma, na sociedade atual, os siameses ou gêmeos parasitas são reconhecidos. Como se desenvolve cotidianamente o labor, como é a vida ativa deles? Neste contexto e nestas reflexões, as pinturas que apresento são reflexo dos sentimento e questionamentos experimentados por mim. A sociedade exclui a possibilidade de ação, que antes era exclusiva do lar doméstico. Ao invés de ação, a sociedade espera de cada um de seus membros um certo tipo de comportamento impondo variadas regras, todas tendentes a normalizar os seus membros. Siameses ou parasitas, com locomoção diferente daquela dos seres humanos “normais! Dificilmente se integrarão às regras desta sociedade. Terão que se adaptar e a sociedade aceitar estas adaptações.

O escravo, ao ocupar a maior parte de seu tempo em tarefas que visam somente à sobrevivência de si e de outros, é destituído do conceito grego de homem. Por outro lado ele não deixa de ser humano. Portanto, dentro dessa lógica só é homem aquele que tem tempo para pensar, refletir, contemplar. 

Nietzsche afirma em seu livro Humano, demasiado humano ³que, aquele que não reserva pelo menos, ¾ do dia para si é um escravo.  A obra nos alerta para a inocuidade da metafísica no futuro. Busca registrar o conceito de espírito livre, isto é, aquele que pensa de forma diferente do que se espera dele: o homem do futuro. Pensando assim, como seres siameses ou gêmeos parasitas planejam ou aspiram no futuro? .A base do que Nietsche escreve encontramos em Sócrates: se é apenas para comer, dormir, fazer sexo, que o homem existe, então, ele não é homem, é um animal, tal como os escravos eram vistos: um animal. E os gêmeos siameses ou parasitas? Como se inserem na sociedade?

Na era moderna a escravidão é um meio de baratear a mão-de-obra, e assim, conseguir maior lucro. Na antiguidade a escravidão é um meio de permitir que alguns, por exemplos, os filósofos, tivessem o controle do corpo, das necessidades biológicas; a temperança. Para os gregos, a escravidão, do ponto de vista de quem se beneficia dela, - os próprios filósofos da época - salva o homem de sua própria animalidade, e não lhe prende às tarefas pragmáticas. A dignidade humana só é conquistada através da vida contemplativa, reflexiva: uma vida sem compromisso com fins pragmáticos. 

Em minhas pinturas, coloco o gêmeo parasita neste lugar. Em muitos momentos ele não se prende às tarefas pragmáticas, portanto, sua vida passa a ser contemplativa e reflexiva. Procuro ilustrar meus sentimentos e reflexões deste gêmeo parasita vivendo no seio de sua família e inserido na sociedade a qual pertence. Há sempre dois lados, nem sempre equilibrados, como se forças opostas estivessem lutando constantemente, sendo estas dos gêmeos parasitas e de suas famílias. Neste caso, a sociedade apenas contempla ou julga a vida deles.

Pensando de uma forma mais abrangente, a relação “parasita” está presente nas as relações humanas, sejam estas amorosas, filiais ou mesmo de trabalho. Consciente ou inconsciente, um ser suga do outro aquilo que lhe faz falta. Neste pensamento, será que o parasita contempla o mundo, ou apenas o observa, deixando o tempo passar?

Paralelamente a estas pinturas, estou trabalhando na criação de esculturas suspensas e objetos em tule com diferentes materiais, sendo que alguns materiais transformam-se com a ação do tempo e são perecíveis. Estes mesmos materiais são os que utilizo em minhas pinturas. Musgos e parasitas presentes em uma árvore em frente à minha casa, recheiam algumas obras. Além destes materiais presentes nas esculturas, há outros elementos que possuem simbolicamente alguns significados para mim: as conchas, que simbolizam a vida; os cabelos, que dialogam com a morte, com transformações e passagens; os fios dourados em cobre e as folhas em ouro que simbolizam a luz e a paz. Nas pinturas fazem parte do universo do gêmeo que consegue ser ele mesmo, nas esculturas, são parte da entranhas físicas de cada um. 

Junto a minha pesquisa, realizei fotografias, que simbolicamente fazem referência às dificuldades de convivência com o outro. A morte está constantemente presente; a dependência e o afastamento do outro. Nelas o foco principal do parasita começa a esvair, até transformar-se apenas em borrões. As fotografias são imagens que uso como base de estudo e de reflexão para a criação das esculturas e pinturas. 

As pinturas e esculturas (e/ou objetos), discutem e retratam estes dilemas, estes sentimentos, repletos de descobertas, medo, raiva, reflexões, incapacidade de modificar suas condições e a aceitação. O conforto de um lugar que nunca foi diferente daquele em que nasceu. 

Hannah Arendt identifica três forma dicotômicas de trabalho: o improdutivo e o produtivo, o qualificado e o não qualificado, o intelectual e o manual. Alguns siameses que se destacaram na sociedade tiram vantagem de sua condição física. Na China sabe-se de crianças que eram apresentadas em circos, atualmente há siamesas nos Estados Unidos que são modelos. De todas as formas, sendo siameses, a condição física implica diretamente em sua dependência física e/ou financeira. Provavelmente estes guerreiros devem romper diariamente várias barreiras para sentirem-se inclusos nas sociedades em que vivem, demostrando aos demais seus valores. Porém, poucos gêmeos siameses conseguem trabalhar na sociedade em que vivem.

 

Em suma, o homem se torna dependente daquilo que que produz. E para Arendt, torna-se dependente é torna-se condicionado. Daí encontramos a justificativa do nome do livro: “A condição humana”. Quais são as condições que o homem se impõe e se submete para permanecer em sociedade, para viver em coletividade. Pares, trios, relações de dependência, de liberdade, autonomia e dependência. Meus desenhos lutam pela liberdade, pela aceitação ou inserção na família ou sociedade, onde o gesto identifica a individualidade. 

As telas são uma trilogia, acompanhadas dos pensamentos e sentimentos.

A primeira tela, a “Concepção”, representa o início, recheado de esperança, realeza, dúvidas, singular, reflexivo. Um lugar a ser construído, um território a ser desbravado. O espaço em branco sugere o lugar a ser construído pelo ser, a realeza, simbolizada pelo ouro, mostra que o ser veio ao mundo para reinar, para ter seu lugar, o preto mostra a força interior, que tem tudo para vencer.

Na segunda tela, “Dúvida”, dor, curiosidade, elo parasita, bipartido, unido constantemente, são os momentos de medo, de terror, de curiosidade, reflexão, revolta, sentimentos misturados. Continuam, presentes os símbolos do nascimento, porém o ser nota que a luta será bem maior que aquela que imaginava no início. Como seguir adiante sendo tão diferente dos demais? Qual será seu lugar e papel no seio de sua família e na sociedade em que vive? Sempre vemos a construção deste ser presente, sendo que a cada dia sua luta se reforça e a partir da aceitação de sua condição humana, o trajeto de sua vida vai sendo desenhado.

Na terceira tela, “Aceitação”, a cor aparece, será finalmente a felicidade deste ser? Ele encontra finalmente a possibilidade de uma rotina construída com muita luta. Cicatrizes fazem agora parte da vida do hospedeiro, pedaços do outro ficam grudados na alma, na história de sua vida.

Entre as telas maiores, vários desenhos e pinturas fazem parte da trilogia: são os sentimentos e os pensamentos presentes em minha reflexão sobre os parasitas, nascidos diferentes de todos que fazem parte de sua família e da sociedade que conhecem. Os pensamentos são livres, por isso não estão dentro de molduras ou chassis estão pregados diretamente na parede ou suspensos por fios dourados. Acompanham o ser, mesmo em momentos de desligamento da realidade. Sempre presentes, próximos, colados e ao mesmo tempo, separados, únicos em suas pluralidades. 

 

Referências, fontes:

Arendt e a condição humana¹, ARENDT, H. Trabalho, obra, ação. Trad. A. Correia. In: CORREIA, A. (org.). Hannah. Salvador: Quarteto, 2006.

A Condição Humana. Trad. Roberto Raposo, posfácio de Celso Lafer. 10 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005.

A condição humana. ARENDT, Hannah 10ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007.

A cura de Schoppenhauer, YALOM, Irvin.D, tradução de Beatriz Horta, RJ, Ediouro 2006, 2ª edição. Pgs 60 e 63 

Uma análise sobre a condição humana de Hannah Arendt e as contribuições para a reconstrução dos direitos humanos ² Mariane Morato Stival, 2015 (Doutora em Direito pelo Centro Universitário de Brasília com estágio doutoral na Universidade Paris 1- Sorbonne. Pós-doutoranda no Programa de Pós Graduação em Sociedade, Tecnologia e Meio Ambiente da UniEVANGÉLICA. Mestre em Direito pelo Centro Universitário de Brasília. Supervisora e Pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Direito, Professora com atuação no Programa de Mestrado da UniEVANGÉLICA. Pesquisadora Visitante da Universidade Paris 1 – Sorbonne e da CorteEuropeia de Direitos Humanos. Advogada e Escritora).

Humano, demasiado humano II ³, Friedrich NietzscheAurora (edição de bolso), 2016. 

http://www.institutosapientia.com.br/site/index.php?option=com_content&view=article&id=1157:qa-condicao-humanaq-de-hannah-arendt&catid=31:general&Itemid=110

https://www.youtube.com/watch?v=vHQNFlJFoxc

https://www.ufsj.edu.br/portal2-repositorio/File/revistaestudosfiloficos/art1_rev6.pdf

https://jus.com.br/artigos/40785/uma-analise-sobre-a-condicao-humana-de-hannah-arendt-e-as-contribuicoes-para-a-reconstrucao-dos-direitos-humanos

 

Carol Seiler, dezembro de 2018

Escolhi uma foto da artista Julieta Schieldknecht, de gêmeas. Gostei muito do conceito da duplicidade e do desfocado presentes na imagem.

 

Em uma conversa com a Julieta, me relatou a história da fotografia, contou-me que as gêmeas possuíam parentesco real. Gostei muito deste "detalhe", uma vez que isso me remete a fantasias e histórias minhas de quando eu era criança.

Adoro trabalhar com o dourado, com folhas de ouro e fios de cobre. Algumas pinturas e objetos que estou trabalhando atualmente, foram construídos com folhas, tecelagem ou fios dourados. Para mim, simbolicamente, o dourado representa o que há de mais sagrado no ser humano.

A partir do tema, comecei a pesquisar os casos de gestações gemelares, encontrando casos que eu desconhecia, diferentes e raros, como gêmeos siameses, subdivididos em diversas categorias, e gêmeos parasitas. Nunca havia ouvido falar em gêmeos parasitas, e me aprofundei no tema.

 

Minhas pinturas representam 3 fases de uma gestação ou nascimento de parasitas, no texto abaixo explico melhor meu pensamento.

 

São três grandes telas e entre elas, há outras, menores, de formatos e tamanhos diferentes, livres dos chassis, e representam os pensamentos e sentimentos dos gêmeos parasitas e daqueles que convivem com eles.

 

Após e durante as realização das pinturas, trabalhei paralelamente com outras linguagens e materiais, como tecidos, conchas, materiais hospitalares e orgânicos entre outros.

São esculturas e objetos, que ficam suspensos no espaço. Estes trabalhos ainda não foram expostos e continuam em andamento.

 

Cada vez mais entro nas raízes mais íntimas e profundas daqueles seres duplos, discutindo sua identidade. E este duplo e o conceito de parasitas, está presente em diversas relações nossas, com amigos, filhos, pais...

 

Carol Seiler

“Coletiva Novembro”

Taisa Palhares*

 

The exhibition “Coletiva Novembro” presents the production of eight Brazilian artists who were invited by the photographer and journalist Julieta Schildknecht, mentor of the NGO #OnbehalfofBrazil#, to carry out artistic interventions in a format of lambe-lambe in twenty points of the city of Sao Paulo, before being exhibited in an art institution.  Inspired by the concept of “social sculpture” of the German artist Joseph Beuys, Schildknecht proposed a curatorship expanding both in the time and space. In this way, she began the work in March of 2018, with weekly meetings with the artists, where besides the production of each one, it was also discussed subjects related to the Brazilian society and its transformations. After the realization of this stage in the city, lambe-lambes were gathered and will be exposed in book format side by side the original works. 

The artists were challenged to think about the impact of the climate and social changes as part of a global problem. Particularly in a difficult historical moment, it becomes pressing to discuss the costs of economic development that does not aim sustainability nor even the preservation of natural landscapes and local cultures, such as the native people ones. In this context, the Utopia of the contemporary metropolis like São Paulo, the largest Brazilian city with its more than 12 million inhabitants, is the symbol of this destructive development which model is becoming exhausted and need to be rethought.

Kitty Paranaguá, Miriam Mamber, Renata Telles, Carmen Rein, Fulvia Molina, Marcia Cymbalista, Lynn Carone and Carol Seiler developed works that reflect in different ways the links between the human being and nature. For this project, each artist chose an image by Schildknecht, as a way of revealing elective affinities between them.  

The result was exhibited in places of great circulation like the Minhocão, the Paulista Avenue, the Estação Pinacoteca, the Casa do Povo, the São Paulo Biennial, the Augusta Street, among others. The idea is that the images interact with the urban scenery in a democratic sense, doing so the art finds the public in his daily life, besides the walls of the galleries and museums.

To talk about the nature and his preservation in Brazil involves so much the memory of a mythical and wild past, like the reminiscence of our origin still preserved in the Amazon Rainforest, as for perception of the destruction, of the aging, of the deterritorialization in the world more and more technologically developed. Many questions without answers are still substantial today in the Brazilian context and its public discussion will define the course of the country in the next decades. For instance, is it still possible to talk about a native landscape being preserved? How does our human nature respond to the different conditions of civilized life? Is it possible to maintain peaceful coexistence in the current world of different cultures, without the minorities being destroyed in the name of technical advancements? How will it remain open to the processes of immigration original from natural or social-political disasters? In this sense, it is the whole social ecology that is put before us like the challenge for a new era.

Be in the poetic form, be in a more straightforward way, the works reflect these investigations, maintaining a subtle presence. Fulvia Molina retakes the question of the prejudice and of the immigration in the work “Êxodos”, after the photography “De Profundis” by Schildneckt.  It tells about the pain and the anguish that mark our time, caused by economic problems and political conflicts. Carone chose a Brasilia city photo, a symbol of contradictories in the contemporary Brazilian history, and presents the register of a performance carried out after the environmental crime of the Samarco, in Mariana (MG). She aims to discuss the dual role of the water nowadays: as something that is vital for life but at the same time lethal. 

Rein and Paranaguá look for the memory of the wild nature as body and origin which we always bring back. The first one took inspiration from a photo of a big tree to speak on what is lost through deforestation, which destroys our sacred relationship with nature. For his time, Paranaguá chose an image of the "Erotic" series that treats the body like wild nature in counterposition to the quick and exacerbated virtuality of the current world. 

Cymbalista is based on the existence of the city of Sao Paulo to create enigmatic drawings that allude to the transformations of the urbane scenery. She is interested in the spontaneous geometry that very often dominates the exterior façades of the great cities, through standards of grills that are used in the combat to the urbane violence.

Telles and Mamber create images based on the concepts of memory and ancestry of nature as much as culture. The first one chose the image of feet as an ancestral symbol of our connection with the land (previous to the rational knowledge), and in the rites of passage that happens symbolically through the washing of the feet. Mamber takes photography of utensils of ancient people, to recreate them like contemporary instruments.

Seiler carries out intervention from paintings that show the phenomenon of the Siamese twins as a way of reflecting the interdependence of the man and the environmental world. She worked from blurry photographies of “The Eliot Twins” series by Schildneckt, in which she identifies the question of the duplicity and of the identity. 

From an allegorical point of view, the perishable nature of the support chosen for this first part of the project (lambe-lambe images) plays the entropic processes of the world. In this way, it considers the modifications suffered from the passage of time in the city, which also changes constantly.

 *Art critic and curator, lives in São Paulo, Brazil. Professor of University of Campinas (UNICAMP). 

 © Carol Seiler 2019.

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